O suicídio é um fenômeno multifatorial, ou seja, são vários elementos envolvidos que levam à decisão de uma pessoa tirar a própria vida. Por isso, é preciso uma articulação de setores e saberes para que ações de prevenção sejam bem sucedidas.

Além disso, o tema não pode ser tratado como tabu. A avaliação é de especialistas ouvidos pelo JORNAL DO ÔNIBUS DE MARÍLIA, em um cenário em que Marília enfrenta uma alta significativa no número de pessoas que tiram a própria vida.

Os números oficiais não mentem e mostram uma cidade que pede socorro em cada rua, em cada beco, no bairro, no condomínio ou em um apartamento de qualquer ponto da capital nacional dos radares, mas que também carrega esta triste marca, a cidade do interior paulista que mais registra ocorrências desta natureza.

Para se ter ideia, Marília registrou oficialmente 20 suicídios em 2020, 23 no ano de 2021 e 27 no ano passado (2022). Neste ano, somente no mês de setembro (mês de conscientização e prevenção), coincidência ou não, foram registrados seis casos de suicídios na cidade.

Aliás, entre o final de agosto e até o dia 6 de outubro, cerca de 45 dias, 10 ocorrências de suicídios foram registrados e o 11º ocorrido na manhã fatídica manhã do referido dia na zona sul de Marília. Os números assustam e aumentam de forma assustadora, sem contar os casos de tentativas que não divulgadas.

Quando imaginamos que a nuvem negra já passou, eis que mais um registro entra para as estatísticas. Desta vez de um homem de 41 anos, foi encontrado morto no apartamento em que morava na zona oeste. Foi na manhã de ontem, quarta-feira(8), depois que um amigo cumpriu o roteiro diário de levá-lo de carona para o trabalho, mas ele não estava aguardando e tampouco atendia o telefone.

Ao longo do dia o amigo fez outras ligações, passou mais uma vez pelo apartamento e notou que a moto dele estava na garagem. Nesse momento decidiu arrombar a porta, quando encontrou o amigo enforcado com o auxílio de uma camiseta e um cinto, dentro do quarto. Chamado ao local, o SAMU contatou o óbito e fez a remoção do corpo para o IML.

Quarenta e oito horas antes, a polícia já havia feito o registro do óbito de uma jovem de 20 anos em um sítio nas imediações da cidade, saída para Lins. Ela tinha 20 anos, já havia tentado contra a vida outras vezes e, aproveitando o fato de ter ficado sozinha por alguns momentos, se enforcou em uma árvore no quintal da residência. Segundo consta, a moça chegou ser socorrida pelos familiares, mas não resistiu e foi a óbito no HC de Marília.

Essas experiências deflagradas pela pandemia impactaram, de forma significativa, a saúde mental em função dos riscos físicos e psicossociais, tornando o sofrimento psíquico muito mais agudo, desencadeando o declínio do sentimento de vida e de uma sensação de vazio que, geralmente, acompanham o comportamento suicida.

Que fique bem claro, não estamos culpando ou responsabilizando ninguém, mas algo precisa ser feito. O governo tem papel fundamental em conseguir criar as alianças, criar suportadores dessas ações, para que essas ações sejam consistentes, com participação da própria sociedade.

É importante a divulgação e a conscientização do fenômeno do suicídio, é importante que este processo seja feito com bastante consciência dos possíveis riscos que os meios e os modos de fazer a divulgação podem acarretar. Não basta panfletar ou realizar passeatas, pois as pessoas estão gritando no silêncio de cada quarto, se faz necessário ouvi-las e para isto, temos que ir de encontro a elas.

DIRETO DO PLANTÃO POLICIAL

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