O ano mal começou e mais uma vez noticiamos o registro de um suicídio na cidade que já é conhecida como a campeã em ocorrências desta natureza. Este é o primeiro do ano e o sétimo em uma sequência dos últimos 35 dias. Sem dúvida nenhuma um número estatístico triste e que rotula a cidade negativamente onde questionamos a falta de uma política mais agressiva dos governantes objetivando ao menos tentar diminuir os casos.

O fato teria ocorrida no final da tarde de ontem, na rua Kintaro Mitsuka, Jardim Marajó, zona sul da cidade. Como de praxe, não costumamos divulgar a identificação da vítima, até mesmo por respeitar a dor dos familiares. Porém, trata-se de um homem de 51 anos de idade. Sua esposa ao chegar do trabalho já o encontrou pendurado em um corda e já sem vida, restando apenas acionar o SAMU e policia militar.

“Precisamos romper tabus e discutir abertamente esta maldição que recai sobre a cidade de Marília. Falar sobre o suicídio é a solução”

A cada 40 segundos uma pessoa comete suicídio, de acordo com a Organização Mundial de Saúde. É a segunda principal causa da morte de jovens entre 15 e 29 anos, atrás apenas dos acidentes de trânsito. No Brasil, dados do Mapa da Violência, organizado pelo Ministério da Saúde, mostram que, em uma década, o número de suicídios entre crianças e adolescentes de 10 a 14 anos aumentou 40%.

Por isso, segundo especialistas, é necessário romper o tabu e falar sobre o assunto. Países que investiram em campanhas e mecanismos de educação e prevenção apresentaram redução nos índices de suicídio. Mas falar como? Quais estratégias utilizar, quais caminhos seguir?

Por que é importante falar sobre o suicídio?

A primeira medida preventiva que deve ser adotada, sempre, é a educação. Por isso é importante falar, debater, discutir, porque traz à consciência um assunto sobre o qual muitos evitam até mesmo pensar. Um dos medos que permeiam o tema é o de que, ao falar sobre ele, o número de suicídios aumente. Desta forma, muitas pessoas que pensam em tirar a própria vida não encontram com quem conversar. O diálogo franco sobre suicídio pode, ao contrário, fornecer opções a quem não vê alternativas, além de auxiliar no alívio da angústia e da tensão oriundas desses pensamentos.

A questão é como falar…

Não falar sobre suicídio não fará com que ele (a) não exista, mas falar da maneira certa pode fazer com que sua incidência diminua. Quando a divulgação de informações voltadas à prevenção é adequada, tem-se o chamado “efeito Papageno”, que provoca a diminuição do comportamento suicida. Muito mais efetiva do que o silêncio é a informação divulgada de maneira sensível, humanizada e acolhedora. É preciso destacar que a adoção de estratégias de enfrentamento positivas diante do público, com acesso amplo à mídia, é fundamental para a ocorrência desse fenômeno.

Efeito Papageno?

Papageno é o nome de um personagem da ópera “A Flauta Mágica”, de Mozart. Ele decide tirar a própria vida mas, ao falar sobre sua intenção, é convencido por três amigos a abandonar a ideia e buscar alternativas e novas possibilidades. Ou seja, o diálogo oportuniza a transformação do mundo interno, a ampliação dos horizontes e a quebra de preconceitos. É também através da comunicação, seja ela oral ou escrita, que encontramos modelos de superação. Pessoas que passaram por situações semelhantes à que estamos vivendo e que conseguiram transpor as adversidades. A história do outro pode servir de inspiração para a adoção de novas estratégias de enfrentamento. É preciso romper o tabu e falar abertamente sobre o tema.

A discussão entorno do suicídio tem se espalhado cada vez mais por entre os mais distintos países do mundo como um problema de contornos internacionais e isso tem preocupado e alertado ainda mais os órgãos responsáveis pela saúde em âmbito mundial. Em Marília o tema chegou a ser discutido no COMUS ( Conselho Municipal de Saúde) que já cobrou providências e ações do secretário da saúde e do Prefeito Municipal.

Conforme aponta o crescimento das estatísticas, ano após ano, tem-se que um maior número de pessoas atenta contra a própria vida, tendo cada uma delas motivos e causas diferentes, normalmente estando vinculadas a dificuldades psicológicas e financeiras e a problemas do cotidiano da vida.

Em um contexto como esse, escrevemos para conscientizar e transmitir uma mensagem sobre o quanto a vida de pessoas sofrendo e pensando em cometer um suicídio é algo extremamente importante para nós. Essa dor tem cura, vai passar e nós queremos que as pessoas saibam disso.

POR QUE É TÃO IMPORTANTE FALAR SOBRE A PREVENÇÃO AO SUICÍDIO

Você já ouviu o mito de quem quer se matar não avisa? Na verdade, de acordo com dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), entre 50% e 75% das pessoas que tentam suicídio falam sobre seus pensamentos suicidas, sentimentos e planos antes do ato.

Ainda assim, muitas pessoas pensam que o suicídio é uma realidade distante e que afeta poucas pessoas, mas, infelizmente, os dados da OMS mostram justamente o contrário. A cada 40 segundos, uma pessoa comete o ato no mundo, de acordo com relatório atual da organização. Isso significa que, em um ano, mais de 800 mil pessoas tiram a própria vida.

A OMS ainda alerta que 90% desses casos poderiam ter sido evitados. Isso porque a maioria deles está relacionado a doenças mentais, que, assim como qualquer outra doença, tem diagnóstico, tratamento e prevenção. Conversar francamente sobre o tema, identificar os sinais de risco e oferecer ajuda são as melhores formas de enfrentar o problema.

O suicídio ainda é um tabu

Difícil de ouvir e mais difícil ainda de falar. O suicídio é considerado um assunto bastante desconfortável e, assim como muitos temas ligados à saúde, o preconceito e a desinformação têm atrapalhado o direcionamento adequado do problema.

O tema ainda é considerado assunto proibido na sociedade, principalmente pela crença de que mencioná-lo pode estimular as pessoas a cometerem o ato. Porém já foi comprovado que falar sobre o assunto pode até reduzir os riscos de uma pessoa cometer o suicídio. Isso porque, segundo especialistas, na maioria das vezes, um simples diálogo consegue aliviar o sofrimento emocional em uma situação de crise.

Há ainda muito tabu em torno de doenças mentais e isso leva quem sofre a não querer se abrir, por medo de julgamento ou até mesmo por não saber que está doente. Procurar ajuda psicológica é visto na nossa sociedade como “coisa de doido”. Isso dificulta a oferta de ajuda, sendo ela de pessoas próximas ou de um profissional.

Nesse patamar, a depressão é uma das doenças mentais que mais levam ao suicídio. Dados da OMS revelam que o suicídio é a segunda principal causa de morte entre jovens de 15 a 29 anos, atrás apenas de acidentes de trânsito.

Para que a prevenção aconteça, de fato, é necessário que primeiramente as pessoas parem de rotular doenças mentais como mera tristeza, frescura ou preguiça. O CASO É SÉRIO.

Como identificar alguém que precisa de ajuda?

O suicídio pode ser prevenido e, embora seja uma questão complexa que envolve muitos fatores –como a colaboração entre profissionais da área da saúde, familiares e serviços de tratamento–, a prevenção pode começar com o reconhecimento dos sinais de alerta.

Se você percebeu que alguma pessoa próxima fala em algum momento algo como “queria dormir para sempre” ou “sou um peso para os outros, vocês estariam melhor sem mim”, tente conversar com ela imediatamente mostrando abertura, empatia e respeito.

Puxar uma conversa e ouvir –sem julgar ou relativizar o sofrimento da pessoa– é o primeiro passo para reduzir o nível de desespero suicida. A etapa seguinte  é incentivá-la a buscar ajuda profissional.

Por mais que seja importante termos alguém para desabafar, só o ombro amigo não é solução para os casos em que a pessoa está considerando tirar a própria vida. Não é todo mundo que está preparado para ouvir demanda de suicídio; dizer algo equivocado pode fazer a pessoa piorar, ainda que essa não seja a intenção.

Aqui fica uma dica importante: deixe que a pessoa fale, sem emitir julgamentos ou opiniões sobre o assunto. É muito importante se mostrar presente e deixar bem claro que sua vontade é apenas ajudar. Além de não ignorar esse tipo de fala, é preciso estar atento a outros fatores. Segundo o CVV, alguns dos sinais de alerta são:

– tristeza intensa e prolongada por várias semanas;

– perda de interesse em atividades que antes davam prazer;

– falta de planos para o futuro;

– postagens relacionadas ao suicídio e depressão profunda nas redes sociais;

– começar a se despedir de lugares e pessoas importantes;

– doação inexplicada de objetos valiosos.

Você pode desempenhar um papel crucial ajudando alguém que está lidando com pensamentos suicidas, mas lembre-se: se você não for um profissional da área, há limites do que pode fazer. Seu objetivo deve ser obter a ajuda profissional que a pessoa precisa.

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