Filas intermináveis que se formam desde as primeiras horas da madrugada, corrida atrás de vereadores e até denúncias de protecionismo para membros do primeiro escalão da administração municipal. Este é o dia a dia de uma das mais conceituadas Emeis da cidade, principalmente no período de matrículas. Porém, eis que um boletim de ocorrência registrado no último dia 19 de agosto, veio a tona e viralizou em grupos de redes sociais.

COMOVENTE: Em seu relato, a mãe declarou que retornava da Emei com seu filho de apenas 4 anos, na sexta-feira (18), quando a mesma de forma tristonha disse que havia ficado de castigo na sala da diretoria por deixar aberto uma torneira do banheiro. Complementando a fala, o mesmo descreveu que “ficou sentado em uma cadeira de frente para a professora, enquanto a mesma estava no computador”. O aluno foi conduzido à sala separado dos demais alunos.

IMPRESSIONANTE: O episódio mais acentuado ocorreu quando a criança ainda entristecida disse para a mãe que “sentiu sono e cochilou sentado na cadeira e foi repreendido pela diretora que disse: “aqui não é lugar de dormir”. Por não se conformar, o mesmo confessou que tentou fugir algumas vezes, mas não deixaram.

A PARTE MAIS TRISTE: Como se não bastasse a “sessão castigo”, o mesmo foi proibido de participar da escovação dos dentes com os amiguinhos e por esta razão chegou a chorar, sendo liberado somente depois de sua turma ter realizado esta atividade.

COMPLEMENTANDO: Em seu depoimento ao escrivão de polícia, a mãe da criança declarou que o menino relutou em contar a situação porque achou que ela iria ficar “chateada e triste”. Foi dito ainda que uma professora ainda comentou sorrindo, na saída da escola, “que ele queria fazer uma piscina”. No conclusivo, ela comprende que a segurança do seu filho ficou em risco no episódio com possíveis traumas.

Os efeitos colaterais

imagem meramente ilustrativa

Muito revoltada com a situação, a genitora acabou por encaminhar a mensagem para outras mães de alunos da Emei, descrevendo o ocorrido e que, após um novo episódio envolvendo a criança, não permitiu mais que ela retornasse à escola. Confira com exclusividade a mensagem que foi amplamente divulgada e condenada em grupos de WhatsApp:

“Boa noite mamães!
O que vou relatar aqui é algo que aconteceu com o D. e que tive a confirmação de uma pessoa de dentro da escola. Preciso dizer primeiro que ele relutou em me contar, ficou falando que eu iria ficar triste, chateada, iria brigar. E por diversas vezes falou que não iria contar nada. Mas deixei claro para ele que sou a mamãe e amiga dele, que preciso saber das coisas para ajudar ele resolver os problemas. De início achei que fosse fantasia da cabeça dele, que ouviu alguma conversa na escola e se colocou como personagem na história. Mas, depois, ele ficou afirmando várias vezes e disse a mesma versão para todo mundo (para o pai, a avó, a bisavó). Não mudou nada. Na sexta-feira passada, quando fui buscar ele, como de costume, perguntei para a professora se estava tudo bem. Ela disse que sim, mas que ele havia feito uma arte e quase alagou o banheiro, mas que ela mesmo não tinha visto porque estava com a turma. Quem viu foi uma outra professora e logo a C. chegou e havia ficado tudo bem. Ainda riu dizendo que achou que ele estava querendo fazer uma piscina. Falei para ela que o D. não era de fazer esse tipo de arte e que se fosse a irmãzinha dele eu até acreditaria. Despedimos da professora e viemos embora… Entramos no carro e ele começou falar que havia dormido na escola, e eu perguntei se havia dormindo mesmo, que a professora não tinha me contado. Ele falou que tinha dormido na sala da diretora. Ainda não fiquei muito confiante no que ele estava dizendo, e perguntei de novo porque ele dormiu na sala da diretora. Ele começou falar que não ia me contar nada. Depois de muito eu insistir, ele disse que tinha ficado de castigo na sala da C.Que ficou sentado em uma cadeira e ela mexia no computador. Falou que ele sentiu sono e quis cochilar, mas que ela falou que ali não era lugar de dormir. Ele disse que tinha uma criança pequena dormindo no colchão no chão da sala e por isso ele sentiu vontade de dormir. Perguntei porque ele foi lá, me disse que foi porque deixou a torneira aberta e molhou o vidro (espelho). Que a diretora levou ele até a sala, não deu a mão para ele e lá ele chorou. Disse que ficou longe dos amigos na hora de escovar os dentes, e chorou muito.Falou que tentou fugir da sala, mas a diretora e a “J” não deixaram.Perguntei o que ela ficou falando para ele, disse que ele tinha desobedecido, e por isso estava lá. Ele ainda me falou que ela gritou tanto que doeu o ouvido dele. Perguntei o que ele sentiu, ele respondeu “fiquei chateado, triste e com saudade da pro”. Na hora eu fiquei sem saber o que falar. Ele ficou falando que ela era uma bruxa, que era feia. Que eu precisava resolver esse problema. No sábado, quando acordou, perguntou se era dia de ir para a escola. Falei que não, e ele “ufa, ainda bem eu não quero ver aquela diretora”. E complementou dizendo que eu precisava resolver o problema. No domingo a mesma coisa. Na segunda ele acordou falando sobre a escola, de início quis ir e mudou rapidamente de ideia falando que não queria ir mais. Mas, levei ele mesmo assim porque eu precisava conversar com a professora e o único momento é na saída. Quando ele entrou na escola, quis que minha mãe levasse ele até o banheiro. Não quis entrar sozinho. Na saída quando fui pegar ele, interroguei a professora que contou outra versão da que me tinha dito na sexta. Tentou culpar o D. e retirar a responsabilidade dela e da diretora. Inclusive falou que não foi a primeira vez que o D. havia feito isso, e eu perguntei por que ela não tinha me comunicado antes. Porque essa conduta não condiz com ele dentro de casa, já que ele é organizado e muito cuidadoso com as coisas dele e da casa. Perguntei por que ela permitiu ele ir para a sala da diretora e lá permanecer e nem me comunicar. Gaguejou e disse que tinha ficado tudo bem. Falei que essa forma de punição não é adequada para uma criança de 4 anos que está na educação infantil. E ela falou que eles tem autonomia de pedir ajuda para a diretora que também é educadora, e por isso ela pediu essa ajuda. Perguntei se era comum mandar crianças para a diretoria, porque é típico de ensino fundamental ou ensino médio. Ela disse que não é comum, mas que a C… pode intervir. Discuti um pouco com ela, me alterei e vim embora. A hora que entrei no carro a primeira coisa que o D. falou foi que a diretora tinha chamado ele enquanto estava no escorregador do brinquedão, ele falou que não foi e ela falou que estava chamando ele. Ele falou que ela estava atrapalhando a visão dele (ele fala assim quando alguém fica na frente dele, normalmente quando ele não consegue enxergar de fato ou passar). Ele disse que ela falou que ele estava errado, porque tinha desobedecido e tinha jogado água. Ele disse que chorou. Perguntei sobre a professora e ele falou que ela estava com os amigos no parque. Desde então, não mandei ele mais para a escola e já tomei as providências necessárias. Gravei a conversa com a professora, filmei ele abrindo e fechando a torneira e lavando as mãos. Gravei ele na sexta-feira contando o ocorrido e gravei hoje para ver se ele mudaria a versão, que se manteve a mesma. Fui até a escola hoje para conversar e não me atenderam. Marcaram reunião para amanhã. Em nenhum momento fui procurada para me relatarem o ocorrido!”.

Conselho Tutelar convocado

Uma lei aprovada em 2014, denominada Lei Menino Bernardo (antes conhecida como Lei da Palmada), modificou o Estatuto da Criança e do Adolescente para estabelecer o direito de crianças e adolescentes serem educados sem o uso de castigos físicos ou tratamento cruel por aqueles responsáveis de educá-los ou protegê-los.

Portanto, hoje o estatuto já estabelece que a criança e o adolescente têm o direito de ser educados e cuidados sem o uso de castigo físico ou de tratamento cruel ou degradante como formas de correção, disciplina, educação ou qualquer outro pretexto. Por esta razão, o Conselho Tutelar de Marília foi acionado para acompanhar o caso e uma reunião foi realizada a escola para os esclarecimentos sobre o ocorrido.

OUTRA GRAVE DENÚNCIA. Devido ao ocorrido, uma outra grave denúncia acabou ocorrendo por parte de outras mães. Trata-se, segundo as denunciantes, da falta de inclusão de alunos com autismo. Conforme relato das genitoras, o fato teria ocorrido durante a última festa junina na escola realizada pela escola.

Segundo os depoimentos, o som estava absurdamente alto, incomodando muita gente que estava presente no evento. Ocorre que, no momento da dança das crianças, os alunos autistas não conseguiram participar da dança da festa junina devido à altura do som.

Ao procurarem a diretora para falar sobre o assunto, a mesma teria dito que “As crianças em alguns momentos da vida, estas crianças não irão se sentir bem em determinados locais e não vão gostar de todas as coisas e não vão querer participar de tudo”.

O fato chama a atenção pela missão da escola em ser uma instituição inclusiva, sendo uma facilitadora e estimuladora de atividades para TODOS os alunos, sem qualquer tipo de preconceito. Por outro lado, a secretaria municipal de educação emitiu uma nota a respeito do assunto. Confira;

NOTA DE ESCLARECIMENTO
A Secretaria Municipal da Educação vem esclarecer sobre os fatos noticiados pela imprensa em relação à EMEI Monteiro Lobato.
Esclarecemos que circulou em grupos de WhatsApp textos sobre fatos relacionados a um aluno que teria ficado de castigo na sala da direção.
Informamos que todas as Escolas do Sistema Municipal de Ensino são orientadas a respeitarem e presarem pelo pleno desenvolvimento infantil, garantindo todos os direitos das crianças em seu processo educativo nos termos das legislações pertinentes.
Todos os funcionários, além dos professores, são agentes educadores e devem atuar junto às crianças de maneira respeitosa, contribuindo com a sua formação da inteligência e personalidade.
Desta forma, esclarecemos que a Secretaria Municipal da Educação está tomando todas as medidas necessárias para elucidação dos fatos.
Marília, 31 de agosto de 2023.
Secretaria Municipal da Educação

NOSSO ENTENDIMENTO. Após tomar ciência do fato, e embora não sejamos um profissional de educação, estamos convictos de que estabelecer as regras e limites, porém, é diferente de castigar.

O sentido de castigar é o mesmo do de punir, causar sofrimento e não necessariamente corrigir, formar ou construir. Colocar uma criança pequena para pensar no que fez é, no mínimo, desconhecer sobre desenvolvimento. Essa criança não ficará pensando ou refletindo sobre o que deve ou não ser feito.

Não tomemos a sábia expressão dos antigos “é de pequenino que se torce o pepino”, ao pé da letra, entendendo que é pelo castigo que se aprende. A construção e o desenvolvimento da personalidade não se dão pela punição e pelo sofrimento, mas pela qualidade das relações estabelecidas.

IMAGEM MERAMENTE ILUSTRATIVA.

Conforme pode-se notar, não há nenhuma menção a medidas a serem adotadas em função do ocorrido. A reportagem do JORNAL DO ÔNIBUS DE MARÍLIA continua acompanhado o caso. E você, mãe ou pai, o que acha deste fato que acabou gerando um boletim de ocorrência? Colocar criança de castigo faz parte da metodologia de educar?

DIRETO DA REDAÇÃO

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