Nesta quinta-feira (20) começaram a ser produzidas as primeiras unidades do Real Digital, a moeda digital de banco central (CBDC) do Brasil. A notícia foi revelada por Ronaldo Lemos, em reportagem para o jornal Folha de S. Paulo. Segundo o colunista, as primeiras CBDCs serão emitidas em seu ambiente de teste, no Laboratório de Inovações Financeiras e Tecnológicas (LIFT).

As unidades que serão criadas são do tipo stablecoin, ou moeda estável, que possui paridade de 1:1 com o real. Essa modalidade é bastante utilizada como moedas intermediárias em negociações de outras criptomoedas que possuem maior volatilidade. A ideia é criar uma versão paralela da moeda fiduciária no ambiente digital, com lastro junto ao Banco Central.

Um dos motivos para o Banco Central criar a stablecoin é aproveitar a segurança da rede blockchain para contratos. A tecnologia permite o registro de transações de maneira descentralizada em milhares de computadores, diminuindo as chances de fraudes e golpes.

Outro benefício de utilizar o real digital é o estabelecimento das carteiras digitais, mudando a maneira como utilizamos as contas digitais através do Open Finance — que visa gerenciar todas as informações bancárias de um usuário em uma única plataforma. Na última terça-feira, diversos bancos brasileiros passaram a permitir a realização de um Pix com saldos de contas diferentes.

O que é o real digital?

O real digital é uma Central Bank Digital Currency (CBDC), ou Moeda Digital Emitida pelo Banco Central, que visa digitalizar processos cotidianos. A moeda brasileira vai facilitar transações financeiras no ambiente virtual, sem que o dinheiro físico esteja envolvido nas operações.

O LIFT Challenge Real reúne um público qualificado de participantes do mercado que avaliarão os casos de uso e viabilidade tecnológica da nova moeda. Conforme os resultados dos testes, a fase piloto com participação de parte da população deverá ser iniciada em 2023.

Como o real digital vai funcionar?

A CBDC brasileira será utilizada através de uma carteira digital que será de responsabilidade de outro banco, ou instituição financeira, autorizado pelo Banco Central. A moeda poderá ser utilizada em qualquer lugar do mundo, sem a necessidade de conversão — estimulando a inovação da economia e inibição da lavagem de dinheiro.

A novidade também permitirá contratos financeiros mais eficientes através da blockchain. Segundo o Banco Central, além dos novos usos de utilização do dinheiro exclusivos do real digital, os atuais meios também estarão disponíveis, como PIX, saque de dinheiro, pagamentos e transferências no geral.

Qual a diferença entre o real digital e a atual moeda?

Se os processos são os mesmos, qual é a diferença entre o real digital e o dinheiro que está na conta e não é físico? Independente de onde esteja depositada, a moeda virtual é de total responsabilidade do Banco Central — enquanto o dinheiro atual é de responsabilidade da instituição financeira onde você possui uma conta.

A principal diferença, porém, está no objetivo do real digital de estimular novos modelos de negócios em uma economia digital. A incorporação de contratos inteligentes e outras tecnologias (como a Internet das Coisas), permitem maior flexibilidade do uso do dinheiro, estando mais adequado a suprir as necessidades dos consumidores com custos menores.

Como o real digital se diferencia das demais criptomoedas?

Considerando que as criptomoedas possuem uma gestão descentralizada, o real digital será fiscalizado e emitido pelo Banco Central, da mesma maneira que o real convencional. Outra importante característica é que as criptomoedas são ativos no mercado financeiro, enquanto o real digital é uma moeda nacional.

Dessa forma, será possível realizar todas as atividades que o real físico pode — como pagar uma conta do supermercado —, enquanto isso ainda não é aceito com o bitcoin e demais criptomoedas.

Combate à lavagem de dinheiro e investimento em inovações

Tendência ao redor do mundo, a criação de moeda digital controlada pelo governo vem sendo testada em países como China, França, Nigéria, Uruguai e Canadá, que já estão mais avançados. A maioria busca por eficiência para pagamentos e transferências imediatas.

No caso do Brasil, já alcançamos esse tipo de agilidade através do bem-sucedido Pix, mudando os objetivos do BC com o projeto. Segundo Eliseu Tudisco, diretor de Estratégia de Negócios da Accenture, o real digital tende a acelerar a substituição do dinheiro físico, elevando a formalidade na economia e ajudando em tarefas como cobrança de impostos e combate à lavagem de dinheiro.

Tudisco ainda cita que uma moeda controlada pelo governo é mais estável, o que torna o investimento em inovações mais seguro, e poderá alavancar serviços financeiros através de finanças descentralizadas (Defi ).

Pessoas poderão oferecer serviços, como empréstimos, sem a intermediação de uma instituição financeira, visto que o acordo seria estabelecido pelos códigos criados na própria moeda. Como principal consequência, as instituições financeiras seriam obrigadas a melhorar seus serviços, aumentando a competitividade no mercado.

Real digital “inaugurado” e internacional

De acordo com Lemos, a partir da primeira emissão destas CBDCs, a rede do Real Digital será “inaugurada”, visto que não estará mais offline — oficializando o desenvolvimento da moeda digital. A rede de testes já vai conectar a CBDC do Brasil ao ecossistema de contratos inteligentes, DeFi e NFTs.

O colunista ainda ressalta que o projeto permitirá a “internacionalização” da moeda brasileira, visto que os cidadãos poderão utilizar o real digital em viagens no exterior ou para compras internacionais sem a necessidade de converter os valores em dólar, euros, etc.

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