A alta da inflação no Brasil nos últimos dois anos têm levado a cada vez mais empresas, de diversos setores, a adotar esse tipo de prática

Pague mais e leve menos. Diante da inflação sem freio, a velha tática da indústria de reduzir embalagens para manter os preços já não funciona mais para segurar reajustes. Pesquisa feita pela consultoria Horus mostra que pelo menos sete categorias de produtos, apesar dos pacotes menores, ficaram mais caras, na comparação do primeiro semestre de 2021 com os seis primeiros meses deste ano.

A chamada reduflação — quando o volume das embalagens encolhe e o preço se mantém inalterado ou aumenta — aparece nitidamente nas embalagens de filezinho de peito de frango tipo sassami, por exemplo.

Segundo o levantamento, eles tiveram redução média de 14,8 gramas, enquanto o quilo aumentou R$ 4,14. É uma queda de 1,6% no volume e um salto de 35,5% no preço. No caso do sabão em pó, os pacotes ficaram 50,9 gramas menores. Mas, como o quilo do produto subiu 19,9% (ou R$ 1,06), na prática é como se o consumidor levasse para casa 214,5 gramas a menos.

O filezinho de frango é um bom exemplo do que acontece quando a reduflação não tem efeito: a embalagem diminuiu, mas o preço não se manteve. Foi a categoria que menos diminuiu a gramatura média, é verdade, mas foi a que mais aumentou o preço. Diante do cenário econômico, o que vemos é que as embalagens de 700g ganharam relevância, por se encaixarem mais no bolso do consumidor“, diz Alessandro de Luca, analista de inteligência da Horus.

Uma triste e dura realidade enfrentada pelo brasileiro, que gasta cada vez mais em sua feira mensal e consome cada vez menos.

Padrão

A pesquisa feita pela Horus, analisou produtos de diversas marcas dentro dos 51 itens da cesta básica ampliada. Destes, cerca de 20 passaram pelo fenômeno de diminuição de tamanho, segundo Alessandro. E pelo menos sete tiveram volume reduzido seguido de aumento de preço: sabão em pó, barra de chocolate, biscoito wafer, achocolatado em pó, leite em pó, coxa e sobrecoxa de frango e filezinho de peito de frango tipo sassami.

O levantamento mostra também haver uma tendência de padronização no volume de alguns itens. No caso das barras de chocolate, as principais mudanças foram vistas nas embalagens de 100 gramas, que caíram para 90 gramas, e nas de 90 gramas, que passaram a ter 85 gramas.

Os achocolatados em pó de 800 gramas diminuíram para 750 gramas ou para 730 gramas e os de 400 gramas para 370 gramas. Já o leite em pó de 800 gramas teve redução para 750 gramas e o de 400 gramas para 380 gramas. Sem contar a mudança de várias marcas, saindo de leite em pó integral para composto lácteo custando em média R$ 34,90 o saco de 750 gramas.

Outro exemplo é o biscoito tipo wafer, que pesava 120 gramas e hoje é vendido em pacotes de 80 gramas. No ano passado, cada unidade custava, em média, R$ 1,56, mas, em 2022, subiu para R$ 1,87. A variação de centavos pode parecer pequena, mas, ao analisar o preço por quilo, constata-se que ele ficou R$ 2,58 mais caro.

Neste caso, temos uma redução média das embalagens de cerca de 6 a 8 gramas. Enquanto isso, em tendência contrária, o preço aumentou mais de 15%, no caso do quilo, e pouco mais de 20%, no preço médio da unidade“, analisa de Luca.

Fenômeno mundial?

Segundo o analista de inteligência da Horus, produtos com tamanhos menores têm sido mais consumidos. O consumidor brasileiro já se acostumou, por exemplo, com as caixas de ovos, que não trazem mais 12 unidades, mas apenas dez. Ulysses Reis, coordenador do Núcleo de Varejo e Supermercados da FGV, afirma que há um movimento de mudança no comportamento de consumo.

Está ocorrendo uma mudança no comportamento de compra. As pessoas estão preferindo embalagens menores mesmo, como uma forma de consumir menos, principalmente os alimentos. Isso é uma tendência que ainda vai crescer em alguns grupos de produtos. Eu acredito que boa parte das embalagens vai reduzir de tamanho, e só não diminuíram ainda por uma questão de cadeia produtiva“, afirma Reis.

O coordenador da FGV afirma que a redução das embalagens é um fenômeno mundial, impulsionado pela inflação alta: “No mundo todo a inflação está acontecendo, com uma média entre 9% e 11% de taxa anual, e sem previsão de baixa. Com isso, mesmo que você diminua a embalagem, vai ter que aumentar o preço. Isso é uma tendência global“.

Gato por lebre: com crise, produtos lácteos são substituídos por derivados e confundem consumidores nos mercados

“Leite condensado” que não é leite condensado, “creme de leite” que não é creme de leite, “requeijão” que não é requeijão ou mesmo “leite” que não é leite. Com a crise econômica e o preço do leite nas alturas, muitas marcas têm optado por ofertar alternativas mais baratas – e isso tem confundido muita gente nas gôndolas dos supermercados brasileiros.

Não é de hoje que a indústria alimentícia oferece esse tipo de alternativa. Há anos, o Ministério da Agricultura permite que fabricantes comercializem produtos assim. Contudo, a grande questão do momento é que, se antes eram alternativas ocasionais, hoje esses derivados conquistaram espaço mesmo em marcas famosas, com embalagens muito parecidas.

Os novos produtos que estão sendo comercializados variam desde o leite condensado até manteiga. Segundo a agência BBC Brasil, elas se apresentam nas mais variadas formas:

  • Leite condensado ganhou a alternativa da mistura láctea condensada de leite, soro de leite e amido;
  • Creme de leite pode ser encontrado como mistura de leite, soro de leite, creme de leite e gordura vegetal;
  • Leite e iogurte têm alternativas de bebidas lácteas;
  • Leite em pó aparece como composto lácteo com óleos vegetais;
  • Requeijão ganhou a alternativa da mistura de requeijão e amido;
  • Manteiga pode virar o alimento à base de manteiga e creme vegetal.

Em um primeiro momento, pode parecer inofensivo. Contudo, essa substituição afeta o consumidor de duas maneiras. A primeira delas é no desenvolvimento de suas receitas: com uma mistura láctea, por exemplo, não é possível fazer um brigadeiro da mesma forma que com um leite condensado.

O outro fator prejudicial ao consumidor – e principal, na verdade – é que esses produtos alternativos apresentam adição de compostos prejudiciais à saúde, entrando para a categoria dos ultraprocessados.

“O barato acaba saindo caro porque tem muitos aditivos alimentares que são prejudiciais à saúde. A gente tem que ficar atento na lista de ingredientes do produto e não só no prazo de validade, no preço ou nas calorias, que é o que as pessoas geralmente olham”, alertou a nutricionista Natalia Brandão.

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